Fruto de vários anos de pesquisa, o livro remete aos antigos almanaques, geralmente vinculados a uma marca ou produto e que traziam uma mescla de informações variadas e entretenimento, como os almanaques do Biotônico Fontoura, do Capivarol e da Saúde da Mulher. O conteúdo, entretanto, é um resgate da cultura trazida pelos imigrantes italianos que colonizaram a Serra gaúcha, mais especificamente dos trivêneto-lombardos.
— Na verdade, os almanaques costumavam ser folhetos de 24 páginas, mas esse demorou tanto a sair... — brinca Luzzatto, sobre o formato "de peso" da obra que assina.
A ideia do livro, conta o organizador, surgiu há mais de dez anos, e foi revigorada com o movimento recente de ensino da língua talian em escolas da região. A maior parte do material foi escrita ou compilada pelo próprio Luzzatto, mas há também colaborações do frei Rovílio Costa (falecido em 2009), que escreveu sobre os imigrantes e a religião; do arquiteto Julio Posenato, que abordou a arquitetura; e do escritor e político vêneto Ettore Beggiato, colaborador na parte dedicada à história. Já as "histórias de antanho", com o original em talian e a tradução em português, são de vários autores.
O Almanaque Talian pretende ainda ser um suporte para professores e, como as folhinhas antigas, ambiciona estar presente nos lares. Por isso, está sendo distribuído em vários municípios gaúchos, especialmente naqueles ligados à imigração italiana. Para Luzzatto, a preservação do talian faz uma ponte verbal com a colonização:
— Com isso, podemos também melhorar o turismo.
— Com isso, podemos também melhorar o turismo.
Surgidos na Europa ainda no Século 15, os almanaques se popularizaram no Século 19 — mais ou menos quando começaram a aparecer também no Brasil. Por aqui, segundo o professor e doutor em Letras Antonio Hohlfeldt, eles eram comuns principalmente entre os colonizadores alemães e, depois, italianos. Serviam para popularizar informações variadas e funcionavam como uma espécie de contato entre os colonos e sua terra de origem.
— Eles também orientavam os agricultores quanto às luas e traziam informações sobre a flora e os chás, além de transmitir a tradição cultural — acrescenta Hohlfeldt, que assina a apresentação do Almanaque Talian.
Somente depois de algum tempo começaram a ser publicados os almanaques em português, com destaque para o do Biotônico Fontoura — que teve sua primeira edição em 1920, com edição e ilustrações de ninguém menos que Monteiro Lobato. Distribuído sobretudo nas farmácias, gratuitamente, ele "adotou" o personagem Jeca Tatu (igualmente criação de Lobato e que, no almanaque, ficava forte tomando Biotônico). Dos 50 mil exemplares da primeira tiragem, chegou a 100 milhões na edição de 1982.
Hohlfeldt salienta que, embora menos numerosos hoje, os almanaques tradicionais ainda existem em alguns locais, e que outros sobreviveram, mas mudaram o suporte, tornando-se eletrônicos. Quanto ao Almanaque Talian, o estudioso avalia que, assim como os antigos almanaques serviam como um "guia" do passado e do futuro, a obra de Luzzatto tem importância como explicação e documentação dos usos e costumes do passado.
Você sabia?
- Tradicionalmente, os almanaques eram publicações anuais repletas de efemérides e informações sobre diversas áreas, como agricultura, santos, etc. Muitas vezes eram em formato de bolso, com o conteúdo principal em letra maior e piadas ou outras informações em letrinhas menores, no pé da página. z
- A revista Almanaque, do jornal Pioneiro, também ganhou seu nome como uma referência a sua proposta de trazer um conteúdo variado, mesclando informação e entretenimento.
- O Almanaque Abril, que era publicado anualmente há 40 anos e considerado uma referência por reunir dados confiáveis sobre os mais variados assuntos, não teve edição em 2016.
Fonte:Jornal Pioneiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Gostou?Comente aqui e se possível inscreva-se.