Lembranças Italianas...

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Claudia Maccari de Bona Sartor: lembranças italianas

Por Gil Karlos Ferri
Historiador - UFSC/UFFS
Anita Garibaldi, SC
Famiglia Bellunesi nel Mondo - Urussanga, SC


Claudia Maccari de Bona Sartor, filha de Amadeo de Bona Sartor e Maria Antonietta Maccari, nasceu e viveu a infância morando com seus pais e avós paternos nas proximidades da capela de Santaninha, interior do município de Urussanga, SC. Seu padrinho e sua madrinha de batismo foram Matteo de Bona Sartor e Hermínia Zanelatto, e, na crisma, foi amadrinhada por sua tia materna Emma Maccari Silvestrini.

A residência de seu nono Giuseppe de Bona Sartor e de sua nona Emília Tramontin era uma grande casa de madeira, tendo em anexo uma cozinha de tijolos, onde havia uma prateleira e baldes esmaltados, em tons de vermelho, azul e branco. A família era, por excelência, de agricultores. Faziam roças queimando a vegetação e lavrando a terra com um arado puxado por bois, para plantar milho, cana-de-açúcar, batata-doce, aipim, e diversas variedades de feijão. A produção era transportada em carros de bois e comercializada na própria região. Também produziam vinho para o consumo. Criavam animais como bois, vacas, porcos, galinhas e gansos. Dentre tantos relatos de seus avós, ouvia contar quem Belluno, na Itália, os espíritos vagavam a cavalo pelas montanhas, até que estas foram abençoadas e as aparições cessaram; imaginário e crendices de uma cultura rural, transmitida através das gerações.

Neste período, na década de 1930 e início da década de 1940, a rotina noturna da família ficou na lembrança. De costume, jantavam minestra [sopa de feijão], formai [queijo] com polenta e alguma salada. Depois do jantar comiam cana-de-açúcar, bergamota, melancia, uva, ou qualquer outra fruta disponível conforme a época do ano. Unidos em família, o dia encerrava-se com a reza do terço em latim.


Claudia lembra com orgulho a determinação de sua mãe, Maria Antonietta Maccari de Bona Sartor, que trabalhava arduamente na colônia possuía uma fé inabalável. Quando pequena, a acompanhava à localidade de Rio América para venderem ovos e galinhas. Quando era necessário, a família ia com um carro de boi para a localidade de Rio Maior fazer compras no armazém dos Mazzucos.

Na localidade de Santaninha, enquanto a família de Amadeo e Maria ali viveu, a população era exclusivamente de italianos e seus descendentes. Alguns dos vizinhos eram: Defende Mariot e Eliza Vendramini; João de Bona Sartor; João Irinaldo Gastaldon e Rosina Maccari Gastaldon (1905 – 2009), sua tia materna; e Antonio Maccari (1882 – 1970) e Dorothea Zandonardi Maccari (1889 – 1974), seu avô materno e sua segunda esposa. No começo da linha Sant’Ana também moravam as famílias Bonotti, Pio e Sacchet.

Até o final da década de 1930 a família de Bona Sartor e vizinhos falavam em dialeto Vêneto, porém, na escola as crianças eram ensinadas no idioma português, que aos poucos – por determinação do governo - foi sendo utilizado por todos. Por volta de 1940, Claudia estudou em uma velha escola de madeira com as professoras Romana e Antonia Baldin. Neste período, boa parte dos colegas de aula eram seus primos.

De forma fragmentada, eis mais algumas lembranças da infância em Urussanga: inticava com os ocche [gansos] por diversão; na roça, gostava de ver os caetés fazendo o barulho de uma sineta com o vento; tinha bambus grandes, e uma árvore que dava uma frutinha vermelha e preta que caia no chão e descascava, fazia-se colares desta frutinha para brincar; em dias de festa jogava-se bòccia [bocha] e assavam-se carnes em fornos; não existia o lixo que se vê hoje, existia capricho no interior.

Por volta de 1942, Amadeo de Bona Sartor e família decidiram migrar para a região serrana de Santa Catarina. A família estabeleceu propriedade em uma localidade banhada pelo rio Capivara, em Bom Jardim da Serra. Nos primeiros meses que haviam chegado ocorreu uma grande nevasca na região. Habitavam uma casa de madeira, com cobertura de tabuinhas. Na frente desta casa havia um monte de pedras, local onde as crianças brincavam. Amadeo derrubou alguns pinheiros e, com os rachões de madeira, cercou alguns porcos para engordá-los. Na propriedade, cultivavam o trigo que no moinho era transformado em farinha para fazerem massas, principalmente pães. Plantavam feijão e batatinha, que rendiam em grande quantidade. Os tropeiros buscavam os produtos na propriedade para fazer a comercialização, o que causava certo medo nas crianças por serem homens estranhos.

A família permaneceram em Bom Jardim da Serra por cerca de 2 anos. Através do parente João de Bona Sartor, Amadeo negociou e comprou novas terras na região de Rio Rufino. De Bom Jardim da Serra, a família se deslocou passando pela localidade de Cruzeiro e pernoitou na localidade de Pericó. Continuaram a viagem até chegarem ao rio Canoas. Passando o rio, seguiram até as localidades de Santa Catarina e Consolação (onde morava a família Ghizoni) e, enfim, chegaram em Rio Rufino. Na vila, na primeira noite que ali chegaram, pernoitaram na casa de João de Bona Sartor. Assim, estabeleceram-se na nova propriedade, no interior.

Possuíam a propriedade cercada por matas que eram povoadas por bugios. Conforme o costume da época, Amadeo caçava alguns pequenos animais, fazendo inclusive passarinhadas.

Claudia e seus irmãos frequentavam a escola que ficava na sede de Rio Rufino, a cerca de 5 quilômetros de onde moravam, e faziam esse trajeto a pé com os demais colegas. Entre os alunos deste período, lembra de ter estudado com o filho de João de Bona Sartor, que, mais tarde, se tornaria prefeito de Rio Rufino.

A família de Amadeo e Maria participava ativamente na Igreja, fazendo parte inclusive do coral. Claudia se lembra de uma missa que participou, rezada pelo padre Blévio Oselame, que usava uma charrete para se deslocar pelas capelas da paróquia. Fez a 1ª comunhão com cerca de 12 anos, provavelmente em 06 de agosto de 1946.

Neste período foi construída a atual Igreja Matriz da cidade, que contou com os trabalhos em pedra de Defende Mariot – antigo vizinho de Urussanga, que ficou hospedado na casa de Amadeo enquanto executava os trabalhos para a construção da Igreja.

Após algum tempo, a família se estabeleceu em Bocaina do Sul. Possuíam moinho e torrefação de café. Participavam dos ofícios religiosos na Igreja Matriz, aonde iam às missas, cantavam, faziam novenas e rezavam o terço.

No ano de 1956, a família soube que uma madeireira havia sido instalada na localidade de Marmeleiro, interior de Anita Garibaldi – SC. Em busca de trabalho, decidiram então migrar para o local. A família vivia em regime de comodato nas terras da serraria, cujo proprietário era Laurindo Paese e o gerente Augusto Langer. Em anexo a moradia mantinha uma pensão, onde ofereciam refeições aos trabalhadores da serraria. A vila no entorno da madeireira possuía cerca de 100 habitações, além de uma república onde muitos trabalhadores solteiros moravam.

Izidoro Oliveira da Silva, que trabalhava na serraria, conheceu Claudia Maccari de Bona Sartor na localidade do Marmeleiro, ambos estavam ali atraídos pelo ciclo econômico que a indústria madeireira representou para Anita Garibaldi e toda a região serrana. O casal namorou por cerca de um ano, decidiram então noivar e, em 07 de junho de 1958, se casaram. Tiveram os seguintes filhos e filhas: Elias (★14 de março de 1959, Anita Garibaldi – SC), João Carlos (★ 17 de maio de 1961, Cerro Negro – SC),

Maria de Fátima (★ 31 de agosto de 1963, Barracão – RS),Clemilda Aparecida (★19 de fevereiro de 1967, Barracão – RS), Claudete (★ 17 de julho de 1971, Anita Garibaldi – SC) e Paulo Izidoro (★28 de agosto de 1977, Anita Garibaldi – SC).

Em 2011, no contexto das comemorações do cinquentenário de emancipação política do município, dona Claudia foi homenageada pela administração municipal pelos relevantes trabalhos prestados a sociedade de Anita Garibaldi.

Em 23 de fevereiro de 2012 seu companheiro Izidoro faleceu, deixando saudosismo por uma vida inteira de dedicação e bom convívio familiar.

Claudia Maccari de Bona Sartor segue com fé e alegria suas atividades pelo bem da família, dos amigos e vizinhos e, principalmente, da proposta cristã por uma sociedade mais justa, visando um mundo melhor.

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