Ascoltemo la stòria racontada par Ademar LIzot, struca soto:
Omàgio a Don Cabeda
Un
giorno quando el sol zera a tramonto son andato visitar el nono Ademar. Cabeda zera el suo soranome e, pien de
benevolensa el suo carater e, se anca el gavea 90 passà ani de età el gavea i
sarvei ntela plenitù del giudìssio. El
zera un cristian de ànima veramente benévola e stimà par tuti, sempre ben vesti, con fatiota e gravata, l`éra
bel de verder-lo ntela domènega quando andea a la Santa Messa par compir la so
fede iremovìbile ntela Divina Providensa.
El zera maestro ntela università
dela vita e, soratuto gavea el don dela mediunità,
cossì el savea del tempo passà e i pressàgii del futuro, misteri e verità
sconte, el cognossea la arte de signi e dei segnai che i dis che gnente se ga
fini e par tanti dolori savea el giusto remèdio. De sta manera el ga iutà
tantìssime persone ntei dolori del corpo e ntela aflission dela ànima,
confermando che la real grandiossità de un omo ze la so umiltà e fradelansa.
Quel
giorno quando el sol l`éra a tramonto, l`é stà la ùltima volta che lo go visto e, quando go rivà ntela so casa par el suo
vardar amico go visto che zera benvenuto e, ricordo che se anca la so longa età, el gavea
poche rughe ntel viso e i soi cavei grissi parvia del sol de tantìssimi veroni,
i gavea la someiansa de bandiere bianche de pace, alora al son dela melodia inconfondìbile
de un tango el me ga saludà, dopo fra una mùsica e altra gavemo parla, fin che
el ga ciapà ntei bràssi el suo bandonion e confermando la so maestria el ga
esecutà una bela musica, de quele che parla co l`anima de chi ga sentimento e,
in seghito con la so habitual coltura el ga parlà sora el maestro Uruguaio
Matos Rodrigues e, con quei bei ricordi, par un s-ciantin el ga silencia e, par
el brilo dei so òcii parea quel zera nte altra dimenssion, fursi insieme de so
cara sposa, che de giovana la ga partisto de questo mondo e, lo ga assà con trè
fioi picinini. Dopo el ga alsa sú i òcii e come sel fusse drio scoltar el
gèmito del vent sufiando ntei campi castelani el ga scominsia a contar stòrie de
antighe rivolussione, quando i colpi de
daga insanguinea i campi dela Provinsia e, in
93 quando la bandiera dei maragati, che la zera prossedente dei campi dela
Spagnà e, quà ntela Mérica Latina la ga tremola nel col dei bravi che soto el
comando de Gumercindo e Rafael i ga lota par difender i soi ideai.
Nte quel giorno quando la luce dela luna
scominsia a sbassarse par sora dela cità, el me ga regala con un dei so bei
libri e, ntel momento dela partensa go senti par i so òcii de teneressa che
zera la ùltima volta che gavea de veder el amico Don cabeda, um omo de ànima
granda, che gavea el viso sempre iluminà par serenità e pace.
Ademar Lizot.
Homenagem a Don Cabeda
Um
dia com o sol caindo no horizonte, num fim de tarde bem lindo, fui visitar o
‘Seu” Ademar.
Cabeda era seu sobrenome e, pleno de
bondade sua índole e, apesar de seus mais de noventa janeiros, ainda era forte
e senhor de seu juízo, sempre sincero e cordial, no transcurso de sua longa
vida com seu espírito benevolente, conquistou o respeito e estima de todos. Era
conselheiro para diversos assuntos, suas palavras tinham a serenidade da sombra
mansa num verão de tarde quente. Também
elegante era, só saia de casa trajando seu terno e gravata, principalmente aos
domingos para ir a Santa Missa, sempre exercendo sua fé irremovível na Divina Providência,
pois era possuidor de forte espiritualidade e com sua mediunidade visualizava
mistérios e verdades ocultas, interrogações e segredos que acalmam
inquietudes. Conhecia os portais em que
os homens chegam e partem e o momento em que os ideais se cruzam nos tempos,
pois a arte os signos e os sinais nos dizem que nada findou, assim foi mestre e
doutor na universidade da vida, aquela que ensina que o pensamento é a presença
do infinito na mente humana, pois para conhecer bastam os livros, mas para
aprender é preciso vivencia, humildade e perseverança que se transmutam em ser
e saber, onde paira soberana a luz maior
da verdade, assim com suas receitas de
remédios, conselhos e orações muita gente ajudou e curou em sua casa atendia gente
da capital, da colônia e das vilas pobres e, sempre tratou em igualdade a
poderosos e humildes, confirmando que a verdadeira grandiosidade de um ser
humano é sua humildade e fraternidade.
Naquele
fim de tarde bem lindo foi a última vez que o vi e lembro que ao chegar, pelo
seu olhar amigo senti que era bem-vindo e, foi ao som de um tango na voz
inconfundível de Gardel nos saudamos e, naquele momento notei que em sua face poucas rugas lhe mapeavam o rosto e, em seus
cabelos prateados pelo sol de tantos verões visualizei pequenas bandeiras
brancas de paz. Então entre uma música e outra conversamos e, como se
adivinhasse meus pensamentos foi até outra sala e retornou abraçado ao seu bandoneon
e, confirmando sua maestria executou os acordes de ‘La Cumparsita’, aquela
melodia que fala com a alma de quem tem sentimento e, depois com sua
habitual cultura, falou do genial maestro Uruguaio Matos Rodrigues, autor
daquela obra-prima e tantos outros tangos imortais e, com emoção contou-me de
quando foi a Montevideo, para no monumental teatro ‘Solis” da capital Uruguaia,
assistir a magnifica orquestra Argentina de Juan D´Arienzo, então após aquelas
suas lembranças queridas calou-se pensativo, com o olhar perdido, distante, como
se tivesse retornado no tempo, para algum momento sublime de sua juventude
junto de sua querida Adelaide, sua amada esposa que ainda jovem faleceu,
deixando-o com três filhos pequenos e seu coração partido. Então respeitosamente
também silenciei naquele momento nostálgico, até que lentamente ele alçou os
olhos para um retrato pendurado na parede, talvez tão antigo quanto sua saudade
e, de súbito, como se escutasse novamente o estrépito de ventos pampeiros ‘por
los campos Castelanos’, começou a contar histórias de antigas revoluções, de um
tempo iluminado pelas pratas dos arreios e por faíscas de adagas que furavam palas ensanguentando as coxilhas
e detalhadamente relatou a epopeia de
seu tio-avô, coronel do exército Federalista, que em 93 lutou defendendo seus ideais, sempre
empunhando a bandeira cor de sangue dos maragatos, que procedente era das
planícies da Ibéria e, aqui no sul da América tremulou no pescoço dos bravos comandados por Gumercindo e Rafael.
Aquele foi um fim de tarde bem lindo, na
agradável companhia de um grande amigo e, quando a lua com seus raios prateados
banhava os telhados dos casarios ele regalou-me com um de seus belos livros e, no
momento da despedida em seus olhos fraternos tive o sentimento que era a última
vez que veria o amigo Dom Cabeda, um homem de alma grande que tinha a face
sempre iluminada de serenidade e paz.
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