Omàgio a Don Cabeda

domingo, 9 de agosto de 2020

 Ascoltemo la stòria racontada par Ademar LIzot, struca soto: 

              

              Omàgio a Don Cabeda

  Un giorno quando el sol zera a tramonto son andato visitar el nono Ademar.  Cabeda zera el suo soranome e, pien de benevolensa el suo carater e, se anca el gavea 90 passà ani de età el gavea i sarvei ntela plenitù del giudìssio.  El zera un cristian de ànima veramente benévola e  stimà par tuti,  sempre ben vesti, con fatiota e gravata, l`éra bel de verder-lo ntela domènega quando andea a la Santa Messa par compir la so fede iremovìbile ntela Divina Providensa.  El zera maestro  ntela università dela vita e,  soratuto gavea el don dela mediunità, cossì el savea del tempo passà e i pressàgii del futuro, misteri e verità sconte, el cognossea la arte de signi e dei segnai che i dis che gnente se ga fini e par tanti dolori savea el giusto remèdio. De sta manera el ga iutà tantìssime persone ntei dolori del corpo e ntela aflission dela ànima, confermando che la real grandiossità de un omo ze la so umiltà e fradelansa.

  Quel giorno quando el sol l`éra a tramonto, l`é stà la ùltima volta che lo go visto  e, quando go rivà ntela so casa par el suo vardar amico go visto che zera benvenuto e,  ricordo che se anca la so longa età, el gavea poche rughe ntel viso e i soi cavei grissi parvia del sol de tantìssimi veroni, i gavea la someiansa de bandiere bianche de pace, alora al son dela melodia inconfondìbile de un tango el me ga saludà, dopo fra una mùsica e altra gavemo parla, fin che el ga ciapà ntei bràssi el suo bandonion e confermando la so maestria el ga esecutà una bela musica, de quele che parla co l`anima de chi ga sentimento e, in seghito con la so habitual coltura el ga parlà sora el maestro Uruguaio Matos Rodrigues e, con quei bei ricordi, par un s-ciantin el ga silencia e, par el brilo dei so òcii parea quel zera nte altra dimenssion, fursi insieme de so cara sposa, che de giovana la ga partisto de questo mondo e, lo ga assà con trè fioi picinini. Dopo el ga alsa sú i òcii e come sel fusse drio scoltar el gèmito del vent sufiando ntei campi castelani el ga scominsia a contar stòrie de antighe rivolussione,  quando i colpi de daga insanguinea i campi dela Provinsia  e,  in 93 quando la bandiera dei maragati, che la zera prossedente dei campi dela Spagnà e, quà ntela Mérica Latina la ga tremola nel col dei bravi che soto el comando de Gumercindo e Rafael i ga lota par difender i soi ideai.

     Nte quel giorno quando la luce dela luna scominsia a sbassarse par sora dela cità, el me ga regala con un dei so bei libri e, ntel momento dela partensa go senti par i so òcii de teneressa che zera la ùltima volta che gavea de veder el amico Don cabeda, um omo de ànima granda, che gavea el viso sempre iluminà par serenità e pace.

Ademar Lizot.                    


Homenagem a Don Cabeda         

Um dia com o sol caindo no horizonte, num fim de tarde bem lindo, fui visitar o ‘Seu” Ademar.

         Cabeda era seu sobrenome e, pleno de bondade sua índole e, apesar de seus mais de noventa janeiros, ainda era forte e senhor de seu juízo, sempre sincero e cordial, no transcurso de sua longa vida com seu espírito benevolente, conquistou o respeito e estima de todos. Era conselheiro para diversos assuntos, suas palavras tinham a serenidade da sombra mansa num verão de tarde quente.  Também elegante era, só saia de casa trajando seu terno e gravata, principalmente aos domingos para ir a Santa Missa, sempre exercendo sua fé irremovível na Divina Providência, pois era possuidor de forte espiritualidade e com sua mediunidade visualizava mistérios e verdades ocultas, interrogações e segredos que acalmam inquietudes.  Conhecia os portais em que os homens chegam e partem e o momento em que os ideais se cruzam nos tempos, pois a arte os signos e os sinais nos dizem que nada findou, assim foi mestre e doutor na universidade da vida, aquela que ensina que o pensamento é a presença do infinito na mente humana, pois para conhecer bastam os livros, mas para aprender é preciso vivencia, humildade e perseverança que se transmutam em ser e  saber, onde paira soberana a luz maior da verdade, assim  com suas receitas de remédios, conselhos e orações muita gente ajudou e curou em sua casa atendia gente da capital, da colônia e das vilas pobres e, sempre tratou em igualdade a poderosos e humildes, confirmando que a verdadeira grandiosidade de um ser humano é sua humildade e fraternidade.  

   Naquele fim de tarde bem lindo foi a última vez que o vi e lembro que ao chegar, pelo seu olhar amigo senti que era bem-vindo e, foi ao som de um tango na voz inconfundível de Gardel nos saudamos e, naquele momento notei que em sua face  poucas rugas lhe mapeavam o rosto e, em seus cabelos prateados pelo sol de tantos verões visualizei pequenas bandeiras brancas de paz. Então entre uma música e outra conversamos e, como se adivinhasse meus pensamentos foi até outra sala e retornou abraçado ao seu bandoneon e, confirmando sua maestria executou os acordes de ‘La Cumparsita’,  aquela  melodia que fala com a alma de quem tem sentimento e, depois com sua habitual cultura, falou do genial maestro Uruguaio Matos Rodrigues, autor daquela obra-prima e tantos outros tangos imortais e, com emoção contou-me de quando foi a Montevideo, para no monumental teatro ‘Solis” da capital Uruguaia, assistir a magnifica orquestra Argentina de Juan D´Arienzo, então após aquelas suas lembranças queridas calou-se pensativo, com o olhar perdido, distante, como se tivesse retornado no tempo, para algum momento sublime de sua juventude junto de sua querida Adelaide, sua amada esposa que ainda jovem faleceu, deixando-o com três filhos pequenos e seu coração partido. Então respeitosamente também silenciei naquele momento nostálgico, até que lentamente ele alçou os olhos para um retrato pendurado na parede, talvez tão antigo quanto sua saudade e, de súbito, como se escutasse novamente o estrépito de ventos pampeiros ‘por los campos Castelanos’, começou a contar histórias de antigas revoluções, de um tempo iluminado pelas pratas dos arreios e por faíscas de adagas  que furavam palas ensanguentando as coxilhas e detalhadamente relatou a epopeia  de seu tio-avô, coronel do exército Federalista, que em 93  lutou defendendo seus ideais, sempre empunhando a bandeira cor de sangue dos maragatos, que procedente era das planícies da Ibéria e, aqui no sul da América tremulou no pescoço dos bravos  comandados por Gumercindo e Rafael.

    Aquele foi um fim de tarde bem lindo, na agradável companhia de um grande amigo e, quando a lua com seus raios prateados banhava os telhados dos casarios ele regalou-me com um de seus belos livros e, no momento da despedida em seus olhos fraternos tive o sentimento que era a última vez que veria o amigo Dom Cabeda, um homem de alma grande que tinha a face sempre iluminada de serenidade e paz.

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