Ricordi de Soledade - Ademar Lizot

terça-feira, 20 de abril de 2021

 Ascolta la stòria spulciando soto: 


 

                                                                Ricordi de Soledade

           


            Questo l`é un relato de quando nò gavea mia gnancaun pecato!

     Gavea poca età quando a la cità de Soledade gavemo ndato de star. Dei ani sessanta zera el prinsìpio e, par nostra fameia un novo scominsio.  Nte quel tempo Soledade zera una cità  vibrante, in che la vestimenta a moda gaussa l`éra predominante.  L`é done de vestì longhi, porteva un fioreto ntei cavei e, i omeni de stivai, bombàcie e, fassoleto nel col,  la seda bianca dei ‘ximanghi’ e, de color de sangue dei ‘maragati’ e, in onor a quel pano i se copea se pressiso.  La cità gavea fama de violenta, ma ancora cossì, el pupà ga volesto andar la de star e, el se ga stabilio come paron de una sorascaria. La carne de piegorin el comprea del vècio Firmin,  de bovino vignea del stansiero Riograndino e, quela de porcel, dela granza del Natanel. El camerier zera el Tonin del Bepon e, la parona dela cosina, la signora Gioachina, na donassa che pesea de pi de novanta e, par cosinar gavea na man Santa.  Cossì in poco tempo gavemo conquistà na fedele clientela e, sinsieri amicii  gavemo catà.  Un zera el Assis un libanes pròpio cortes.  Gavea anca el Demaman,  un bon cristian, ma squasi sempre co`l bicier de vin in man.  Un tipo saliente l`éra el vècio Vicente, rivolussionàrio nel 23, mèso orbo de`n òcio, sensa e una rècia e un tochetin del naso, ma ancora valente. Ricordo del Aparicio Santana, che de cativo gavea la fama, svelto par manesar el cortel, ma fiaco de sarvel.  Gausso aotentico l`éra el negro   Dorival, maragato domador de cavai, cristian de fondamento, el zera la pròpia imàgine dela Provìnsia de San Piero. 

 De quel tempo indesmetegàbile un momento presiosso l`é sta quando par l`é onde dela ràdio Guaiba se scoltea un ciamamento del goernador Brisola, un vero clarin de guera convocando i gaussi par difender la Legalità, alora el mio  pupà, che no`l zera mia de quei  spaurà, el ga ligà nel co`l un fassoleto de seda bianca, ornà co`l distintivo  del Rio Grande e, de volontàrio el se ga presentà.

     E cossì  finisso questo relato de quando nò gavea mia gnancaun pecato e, se anca la poca età, solche co le gambe rento de una bombàcia me  sentiva a volontà e, adesso dopo de tanti ani, de Soledade, fora la saudade el ùnico  presiosso ben che me resta l`é un fassoleto de seda bianca,  relìchia de mio pupà.

Ademar Lizot.

                                                  Lembranças de Soledade

      Este é o relato de quando eu não tinha nenhum pecado!


   Tinha menos de cinco anos de idade quando, à cidade de Soledade fomos residir. Era o principiar dos anos sessenta e, para nossa família um novo recomeço. A cidade era vibrante com a tradição predominante. A maioria dos habitantes trajavam à moda gaúcha; as mulheres de vestidos longos e uma flor no cabelo e, os homens de botas, bombacha e lenço ao pescoço, a seda branca dos chimangos e, a cor de sangue dos maragatos e, por aquele pano morriam se preciso. Toda aquela região tinha fama de violenta, mas nosso pai, assim mesmo decidiu por lá residir e comprou no ponto central uma churrascaria. A carne de ovelha comprava do velho Firmino, a de bovino vinha do estancieiro Riograndino  e, da granja Natanel a de suíno. O garçom era o Antoninho do Bepão e, a cozinheira a senhora Joaquina, que mais de noventa kilos pesava e mais de cem pratos preparava  Assim em pouco tempo conquistamos uma   fiel clientela e, sinceros  amigos, como o compadre Cobalchini, sempre elegante de terno e gravata. Muito cortes era o Assis, um jovem Libanês e, apaixonado por nossa irmã, porém seu amor não era correspondido.  Ainda lembro do velho Demaman, um bom cristão, mas sempre com o copo de cachaça em mão. Um tipo saliente era o velho Vicente, revolucionário em 23, sem uma orelha e do nariz um pedaço, meio cego de um olho, mas ainda valente.  Fama de brabo tinha o Aparício Santana, meio fraco das ideias, mas ligeiro no manejo do facão. O gaúcho mais autêntico era o negro Dorival, maragato domador de cavalos. Era um tipo de fundamento verdadeiro representante do Rio Grande antigo.

    De todo aquele tempo, o momento mais inesquecível foi quando pelas ondas da rádio Guaiba se fazia sentir o chamamento do Governador Brisola, convocando os gaúchos em defesa da Legalidade, então meu pai, que não era dos mais assustados, atou no pescoço um lenço de seda branca com o escudo do Rio Grande e, com suas “ferramentas” se apresentou voluntário.

    Assim finalizo este relato de quando tinha tão pouca idade e, só com as pernas dentro de uma bombacha me sentia à vontade e, agora depois de tantos anos, de Soledade além da saudade o único precioso bem que resta é um lenço de seda branca, relíquia de meu pai.

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