Gil Karlos Ferri[1]
Valberto Dirksen[2]
Resumo
O
objetivo deste artigo é apresentar os aspectos históricos da criação da Paróquia
Santa Bárbara e a atuação sociorreligiosa da Igreja Católica em Anita Garibaldi
(SC). Com base em revisão bibliográfica e fontes documentais e iconográficas do
acervo paroquial e diocesano, a presente narrativa visa mostrar o relevante
papel dos padres Carlistas/Escalabrinianos e das Irmãs da Divina Providência no
desenvolvimento do município mediante sua atuação na Igreja, na escola
paroquial e no Hospital Frei Rogério. A criação da paróquia e o trabalho dos
religiosos e das religiosas na assistência espiritual e social representam um
legado fundamental da Igreja Católica Apostólica Romana para a melhoria da
qualidade de vida da sociedade anitense e de toda a região.
Palavras-chave:
Religiosidade; Paróquia Santa Bárbara; Anita Garibaldi.
Introdução:
a gênese caboclo-serrana
Antes
da chegada dos colonizadores de origem europeia, grupos indígenas viviam na
região onde atualmente está localizado o território do município de Anita
Garibaldi, no Planalto catarinense. A partir do século XVIII memorialistas relatam
que o território entre os rios Canoas e Pelotas, denominado “Entre Rios”,
passou a servir para o descanso de tropeiros e invernada
das tropas que passavam pela região serrana. Por volta de 1825 tropeiros do Rio
Grande do Sul, Paraná e São Paulo utilizavam o local onde atualmente se
encontra a Praça Paulino Granzotto para paradas e sesteadas em suas viagens.
Nessas ocasiões, além do comércio de mercadorias, ocorriam trocas e compras de
animais com os fazendeiros locais, que detinham criação de equinos. Por esse
motivo o local teria ficado conhecido como “Rincão dos Baguais”.[3]
Diversas
fontes nos auxiliam na composição de uma narrativa sobre as origens da
paróquia. Dentre elas, merece destaque um breve histórico escrito pelo padre carlista
Sextilio Miotto, em 1967. Seus registros, em italiano popular, enfatizam as
ações da Igreja Católica e fornecem relevantes observações sobre a história
local. Acerca da situação de Anita Garibaldi antes do século XX, o religioso
registrou que:
Dove, c’è l’attuale
piazza c’era um grande “banhado” dove si abbeverano i giumente dei “tropeiros”
che passavano di qui. Aveva una stradicciola.
Il resto era foresta vergine.
[Onde existe atualmente a praça, havia um grande
banhado onde se dava de beber às mulas dos tropeiros que por aqui passavam.
Havia uma estradinha. O resto era floresta virgem].[4]
A
população local de origem luso-brasileira, também conhecida como cabocla, possuía
uma fé peculiar (rústica), distante do catolicismo oficial preconizado pelo
clero de Lages. O isolamento em que vivia era um dos motivos para que não
frequentasse as poucas e esparsas capelas do território entre os rios Canoas e
Pelotas. Deste modo, as pessoas cultivavam
sua fé individualmente em casa ou em grupos de vizinhos, através de
rezas e cantos populares. Recorria-se rotineiramente aos curandeiros e
benzedores para resolver doenças
e atender aos apelos religiosos. O distanciamento dos rituais católicos não era
um desdém ao clero da época, mas antes um reflexo do superficial conhecimento
dos ritos da Igreja somados as limitações materiais e ao isolamento das comunidades
de outrora.[5]
Alguns profetas[6] peregrinavam por esse território, curando
e pregando sua religiosidade aos habitantes locais. Muitos tinham fé em suas
palavras e ações, pois executavam curas e falavam de justiça e esperança a um
povo que vivia na miséria e era carente de assistência religiosa. Ainda hoje a devoção
popular aos profetas pode ser notada na crença de que alguns locais por onde
estes monges teriam passado – como as denominadas “águas santas” – são
considerados sagrados.
Padres Franciscanos: assistência religiosa
no sertão
A
esporádica assistência religiosa católica iniciou-se no final do século XIX,
quando os padres franciscanos da Paróquia de Nossa Senhora dos Prazeres de
Lages[7] realizavam viagens de desobriga para atender a
população do território onde hoje encontram-se os municípios de Campo Belo do
Sul, Cerro Negro, Anita Garibaldi e Celso Ramos. Conforme
o histórico produzido pelo padre Sextílio Miotto, no início do século XX “questa
località era servita daí Padri di Lajes, che venivano ogni tre o alle volte
ogni sei mesi.” [“Esta
localidade era atendida pelos padres de Lages, que vinham a cada três ou às vezes
a cada seis meses”].[8]
O primeiro oratório do qual se tem registro no território que atualmente
compreende a Paróquia Santa Bárbara foi construído na década 1890, na
comunidade de Freguesia dos Domingos, e tem como padroeiro São Francisco de
Assis. A organização religiosa dessa comunidade se deve possivelmente aos
padres franciscanos, da Ordem de São Francisco de Assis, pois foi no ano de
1892 que essa congregação de religiosos se instalou em Lages.[9]
Nas
primeiras décadas do século XX os padres franciscanos percorriam a região, a
cavalo ou de mula, seguindo uma agenda de celebrações nas capelas e sedes das
fazendas onde rezavam missas, batizavam, atendiam confissões, celebravam casamentos
e faziam visitas aos doentes. Cada comunidade se organizava para a visita dos
religiosos, pois era um momento de oração, união e festividade. Além da comunidade
de São Francisco, da Freguesia dos Domingos, existiam, entre outras, as capelas
de Santa Bárbara, Santa Ana, Santo Antônio, São João do Entre Rios e Colônia
São Paulo. Frei Rogério Neuhaus (*1863 – †1934), cognominado o “Apóstolo do
Planalto”, foi um dos missionários deste período, percorrendo
a região de 1892 a 1918. Outros franciscanos atendiam também a região
desde o final do século XIX até a primeira metade do século XX. Entre eles,
citam-se: Frei Lourenço, Frei Fausto, Frei Hipólito, Frei Cristiano, Frei
Olímpio, Frei João Damasceno e Frei João Batista.[10]
Migração
e colonização ítalo-brasileira: catolicismo romanizado
No
final do século XIX o fazendeiro lageano José Maria Antunes Ramos decidiu fundar
uma colônia em terras de sua propriedade para auferir ganhos com a venda de lotes
aos colonos. Ciente da religiosidade dos (i)migrantes
ítalos, o fundador da colônia teve a preocupação de construir uma capela na
sede da colônia, conforme notícia publicada no periódico Região Serrana em 06
de maio de 1900:
Estão
construídas na sede da colônia, por enquanto, a casa do diretor e diversas casas
provisórias para trabalhadores, e dentro de pouco tempo o diretor dará começo à
construção da igreja para cujo fim tem conseguido não pequena quantia por meio
de subscrição. [...] É, portanto, um fato consumado, a criação da colônia Anita
Garibaldi.[11]
Por
volta de 1905, algumas famílias descendentes de imigrantes italianos que haviam
migrado para a localidade de Santa Ana, na margem do rio Canoas, decidiram
estabelecer-se na sede da colônia, no local onde atualmente se encontra a área
central da cidade. Mais tarde, a partir da década de 1930, outra leva de
migrantes de origem italiana proveniente do Sul de Santa Catarina se estabelece
na região, principalmente onde hoje se localiza o município de Celso Ramos. Estas
famílias traziam na bagagem de sua cultura a devoção a diversos santos e santas
e estavam em sintonia com a doutrina oficial da Igreja Católica Apostólica Romana.
Uma dessas devoções era o culto a Santa Bárbara, amplamente difundido na Itália
e trazido para o Brasil pelos imigrantes. Os colonos escolheram esta Santa como
padroeira do local, pois veneravam-na como protetora contra relâmpagos e tempestades,
e uma capela foi construída em sua honra nas proximidades onde hoje se encontra
a Praça Paulino Granzotto. A imagem da santa foi entalhada por um escultor de
origem italiana, residente na localidade de Lajeado dos Portões. O mesmo
escultor também esculpiu a imagem de São Francisco, padroeiro da capela da
Freguesia dos Domingos.
Os
moradores do pequeno povoado, com espírito de solidariedade, aproveitando a boa
vontade do proprietário sr. José Maria Antunes, em oferecer um terreno próprio
para a construção de uma capelinha, lançaram mãos à obra e construíram a
primeira ermida, de tábua bruta plainada a punho, embora com muito sacrifício,
em honra à Padroeira Santa Bárbara. A pequena estátua da santa foi feita em
madeira de cedro.[12]
As famílias provenientes das
colônias italianas do Rio Grande do Sul e do Sul de Santa Catarina eram
portadoras das práticas de um catolicismo mais doutrinário e romanizado. Em
comparação aos caboclos da região, os ítalo-brasileiros, de formação religiosa
tridentina, tinham melhor conhecimento da doutrina oficial da Igreja Católica. Os
italianos e seus descendentes davam especial importância a presença de um padre
junto à comunidade, fator este que impulsionou e mobilizou as comunidades
durante a primeira metade do século XX para que tivessem um atendimento
religioso regular. A intensificação deste interesse ensejou a criação da paróquia,
pois “para os italianos, a Igreja Católica era a principal normatizadora das
condutas morais e o polo aglutinador da sociabilidade comunitária e da vida dos
colonos”[13].
O
desenvolvimento econômico e as articulações políticas levaram a localidade de
Anita Garibaldi à categoria de distrito do município de Lages, através da lei
n. 1648 de 03 de outubro de 1929, tendo sua instalação acontecida em 15 de
janeiro de 1931, com a nomeação de Paulino Granzotto no cargo de Intendente
Distrital e Theodoro Salmória como Vice-Intendente Distrital.[14] Com o crescimento populacional a
primitiva capela de Santa Bárbara tornou-se pequena para comportar os fiéis. Por
isso, foi planejada uma nova capela, mais espaçosa. Sua construção deu-se por
volta de 1932, no lugar onde atualmente se encontra o prédio da prefeitura
municipal. Neste período também foi construído um salão nas imediações da
capela. Esta construção trouxe grandes benefícios para a população local, pois servia
para festividades e outros eventos sociais. Em 1934 o Bispo Diocesano de Lages,
Dom Daniel Hostin[15], visitou a capela de Santa Bárbara
e foi recebido com grande solenidade. Nessas visitas, de caráter pastoral,
compareciam, de longe e de perto, os fiéis em massa, pois além das pregações e
celebrações litúrgicas de praxe, era ministrado também o sacramento da crisma.
Figura 01 – Igreja Santa Bárbara. Anita
Garibaldi, década de 1930.
Acervo: Paróquia
Santa Bárbara. Anita Garibaldi, SC.
Criação da Paróquia Santa Bárbara
Durante
a primeira metade do século XX a população de Anita Garibaldi aspirava pela
criação de uma paróquia. O bispo Dom Daniel Hostin acompanhou este anseio nas
inúmeras visitas que fez à capela da localidade. Também os habitantes da
colônia São Paulo, atual município de Celso Ramos, reivindicavam a criação de
uma paróquia em seu território. Por questões de afinidade política e
centralidade geográfica, foi decidido pela diocese que a nova paróquia teria
sua sede em Anita Garibaldi. Sobre a criação da paróquia e a escolha do lugar
para sede, o padre Sextílio Miotto registrou em seu histórico:
Nel 1947 Anita fu visitata dai Padri Carlisti che per
invito del Vescovo accettarono di fondarvi una parrocchia. [...] Nel 1947
vennero a studiare la possibilità della parrocchia e scegliere la sede. Vi
rimane p. Remigio Dalla Vecchia. [...] P. Remigio scelse Anita come sede della
parrocchia perchè era più centrale. [...] Il giorno 4 dicembre 1948 è creata la
Parrocchia di Anita Garibaldi avendo per Patrona Santa Barbara.
[No ano de 1947
Anita foi visitada pelos Padres Carlistas que, a convite do Bispo, aceitaram a
incumbência de fundar uma paróquia. [...] Em 1947 vieram estudar a
possibilidade da paróquia e escolher a sua sede. Aqui ficou o padre Remígio
Dalla Vecchia. [...] Pe. Remígio escolheu Anita como sede da paróquia porque
era mais central. [...] No dia 04 de dezembro de 1948 foi criada a Paróquia de
Anita Garibaldi, tendo por padroeira Santa Bárbara].[16]
No
final da década de 1940, reforçando o interesse pela criação de uma paróquia na
localidade, alguns habitantes dedicados às causas políticas e religiosas do distrito,
enviaram ao bispo diocesano um documento com significativo número de
assinaturas com promessa de doações para a criação da paróquia. Por certo este
documento pesou na decisão do Bispo e fortaleceu a escolha do distrito como
sede paroquial.
Por
decreto do Bispo de Lages de 08 de setembro de 1950 (transcrito abaixo) foi
oficialmente criada a Paróquia Santa Bárbara de Anita Garibaldi. A solenidade
de instalação foi no dia 31 de março de 1951, e a posse do primeiro vigário, padre
Remígio Dalla Vecchia, foi no dia 01 de abril de 1951.
DOM
DANIEL HOSTIN DA
ORDEM FRANCISCANA POR
MERCÊ DE DEUS E DA SANTA SÉ APOSTÒLICA BISPO
DE LAJES Aos
que este Nosso Decreto virem, saudação, paz e benção em
Nosso Senhor Jesus Cristo. Fazemos saber que, atendendo às necessidades
espirituais dos nossos amados Diocesanos dos distritos de Anita Garibaldi e
Cerro Negro, no município de Lajes, depois de ouvido o nosso venerável
Conselho Diocesano e mais partes interessadas, em virtude de nossa Jurisdição
ordinária, de acordo com o Canon 1427, combinado ao Canon 454, § 3, do
Direito Canônico: havemos por bem criar, como de fato pelo presente nosso
Decreto, criamos a paróquia de Santa
Bárbara de Anita Garibaldi, desmembrando, para sua formação, parte do
território da paróquia de Nossa Senhora dos Prazeres de Lajes. A nova paróquia de Santa Bárbara de Anita
Garibaldi, terá as seguintes divisas: Confina, ao norte, com a paróquia de
São João Batista de Campos Novos pelo rio Canoas, do seguinte modo: partindo
da sua foz no rio Pelotas, sobe pelo Canoas até o limite da paróquia de Nossa
Senhora da Saúde de Abdon Batista, daí, sempre pelo rio Canoas até à barra do
rio Caveiras; daí, em divisa com a paróquia de Lajes, sobe pelo Caveiras até
a confluência do lajeado do Alexandre; ao leste, ainda com a paróquia de
Lajes, sobe pelo lajeado do Alexandre até a sua nascente; daí por uma linha
seca até a nascente do lajeado dos Tijolos e desce por este até a sua foz no
rio Pelotas; ao sul, desce pelo Pelotas até a barra do rio Canoas, onde teve
começo a presente descrição. |
Acervo: Paróquia Santa Bárbara.
Anita Garibaldi, SC.
Na
ocasião da Santa Missa na igreja de Santa Bárbara, em 31 de março de 1951, o
Bispo Dom Daniel Hostin deu posse aos membros do primeiro Conselho da nova
Paróquia – que naquele tempo eram chamados de fabriqueiros –, os quais assinaram a ata da reunião
extraordinária do Conselho da Fábrica da Paróquia Santa Bárbara de Anita
Garibaldi: Pe. Remígio Dalla Vecchia (presidente), Augusto Langer
(vice-presidente), Miguel Baby Sobrinho (tesoureiro), Francisco Rodrigues
Varela (1º secretário), Euclides Granzotto (2º secretário), Oswaldino José Baby,
João Ambrósio, Luiz João Antoniazzi, Maurílio Salmória, Cantalício Ceregatti de
Godoy, João Maria Fernandes, Silvério Pucci Ceregatti, Florêncio Salmória,
Aquiles Marin, Ivo Schenchet, Eurides Wolff, Vitório Menegazzo, Tolentino José
Pinheiro, João Batista José de Souza, Severino
Cavalli e Idalino Pacheco de Andrade.[17]
A
pedido do Bispo, o superior provincial da Pia Sociedade dos Padres Carlistas[18] concordou em assumir a Paróquia
Santa Bárbara que, naquela época, também abrangia as comunidades do Distrito de
Cerro Negro, perfazendo, ao todo, mais de 50 capelas. Os Padres Carlistas, também conhecidos como Escalabrinianos, de origem italiana, tinham afinidade
e experiência na prestação de assistência religiosa a localidades formadas por migrantes.[19]
Havendo
tomado posse, os padres logo perceberam as enormes carências da população em
todos os aspectos, sobretudo na área da saúde e da educação, além do estritamente
religioso. Graças ao seu preparo e experiência, puseram imediatamente mãos à
obra com coragem e decisão.
Hospital Frei Rogério
A
fundação do Hospital Frei Rogério foi uma das obras de maior relevância social
que a Igreja Católica legou aos cidadãos de Anita Garibaldi e região. A decisão
de construir a casa de saúde partiu do padre Elias Bordignon[20] e foi oficializada em reunião no
dia 1º de novembro de 1952.[21]
Após dois anos de trabalhos a primeira parte do prédio, em
madeira, estava pronta. No dia 14 de agosto de 1954, chegaram as Irmãs da Divina Providência[22]
para assumir a direção do hospital. As quatro
primeiras religiosas foram: Egbertina, como Coordenadora e Diretora Executiva;
Joanilde e Meandra, para a enfermagem; e Crisófora, para a cozinha, lavanderia,
horta e demais serviços. A inauguração oficial do
Hospital Frei Rogério ocorreu no dia 15 de agosto de 1954. No decorrer dos
anos, o hospital passou por inúmeras ampliações e melhorias no atendimento e
nas acomodações.
A partir do
início do ano de 2012 o hospital passou a ser administrado por uma associação
beneficente. Apesar das dificuldades para a sua manutenção, o hospital responde
às primeiras necessidades da população, contando com atendimento emergencial,
partos, pequenas cirurgias e outros tratamentos.
Irmãs
da Divina Providência e Escola Paroquial
Concluídas
as obras de construção do Hospital Frei Rogério, o Padre Elias Bordignon providenciou
a construção de uma casa de madeira, que serviria de convento para as Irmãs da
Divina Providência. Notando a necessidade de uma formação educacional cristã
para a juventude do local, a Congregação enviou, em 1955, a Irmã Veralba para coordenar
a catequese, o canto e o ensino básico. Em 1956 a Congregação
abriu um Juvenato onde moças recebiam formação religiosa e intelectual. Com o
passar dos anos este estabelecimento de ensino foi nomeado sucessivamente com
as seguintes nomenclaturas: Colégio Santa Maria Goretti, Escola Padre Antônio
Vieira, Colégio Padre Antônio Vieira, Escola Básica de Ensino Fundamental Padre
Antônio Vieira e, atualmente, Escola de Educação Básica Padre Antônio Vieira.
Atualmente
algumas Irmãs ainda continuam atuando no âmbito do município, exercendo sua
missão através das visitas às famílias, na organização da liturgia e como
presença orante e testemunho de fé.
Nova Igreja Matriz
Desde
a criação da Paróquia, o primeiro padre, Remígio Dalla Vecchia, desejava a construção
de uma nova Igreja Matriz para a padroeira. A Igreja de madeira, em uso desde a
década de 1930, tornara-se pequena para a crescente população na década de
1950. O Padre Elias Bordignon sensibilizou-se com a demanda paroquial por um novo
templo. Empenhou-se na elaboração do projeto e iniciou uma campanha para
arrecadar fundos em prol da obra.
O
novo templo não seria construído no mesmo local da igreja antiga, pois o espaço
era insuficiente para o edifício e as demais dependências. Para esta finalidade
a paróquia conseguiu reaver parte do terreno que o fundador de Anita Garibaldi,
o fazendeiro capitão José Maria Antunes Ramos teria doado à Igreja como
patrimônio da padroeira Santa Bárbara. Segundo a tradição oral, o terreno era
aquele onde atualmente se encontram a igreja matriz, o colégio e o hospital. A
benção da pedra fundamental ocorreu em solenidade realizada no dia 03 de março
de 1957.
Figura
02 - Construção da Igreja Matriz Santa Bárbara. Anita Garibaldi, 1959.
Comerciantes,
madeireiros, fazendeiros, colonos e demais paroquianos somaram seus esforços na
construção da nova igreja. Junto com pedreiros e carpinteiros, Efísio Fanni
colaborou como mestre de obras. Para a conclusão da obra, destacou-se o
empreendedorismo do padre Antonio Stella, que animava a todos com sua força
física, moral e religiosa. Após três anos de
ingentes esforços, a monumental igreja foi inaugurada
em março de 1960. Porém, devido a sua grandiosidade, as obras prosseguiram: “nel
1960 la chiesa però era, si può dire, appena coperta: negli anni
successivi si continuarono i lavori.”
[“Em 1960 pode-se dizer que a igreja estava apenas coberta: nos anos sucessivos
as obras continuaram”].[23] Concluída a igreja, foram
construídos os atuais espaços da casa canônica e do salão paroquial, ambos
recentemente reformados.
A imponente igreja, com uma torre que figura entre as mais altas
dentre todas as igrejas do Estado de Santa Catarina, é um verdadeiro símbolo
para a cidade.
Figura
03 – Vista frontal da Igreja Matriz Santa Bárbara e parcial da E.E.B. Padre
Antônio Vieira e Hospital Frei Rogério. Anita Garibaldi, 04 jun. 2019.
Fotografia: Gil
Karlos Ferri.
Considerações
finais
A composição de uma narrativa histórica
acerca da criação da Paróquia Santa Bárbara permite compreender, em
perspectiva, o contexto sociorreligioso e articulação do clero em uma
significativa parte do Planalto Serrano de Santa Catarina. A criação da
paróquia possibilitou ao bispado de Lages uma melhor presença na assistência religiosa
no sertão entre os rios Canoas e Pelotas. Os esforços e articulações dos padres
Carlistas e das irmãs da Divina Providência foram fundamentais para a criação e
desenvolvimento do município de Anita Garibaldi, envolvendo-se em obras na
saúde, educação e assistência social.
Em 12 de fevereiro de 1992, depois de quase meio século de
atividades, os padres Carlistas deixaram a paróquia e foram substituídos pelos padres
Diocesanos, que atendem a paróquia até hoje. A Paróquia de São Paulo Apóstolo,
no município de Celso Ramos, foi criada em 1998 mediante o desmembramento de
algumas capelas da Paróquia Santa Bárbara.
Ao
longo do tempo, desdobramentos sócio-políticos tornaram a escola e o hospital
instituições laicas. Entretanto, a perspectiva histórica favorece o
reconhecimento do ânimo e do legado dos religiosos e religiosas da Igreja
Católica Apostólica Romana para a estruturação do município e uma melhor
qualidade de vida para a sociedade anitense e de toda a região.
Referências
DIOCESE
DE LAGES. Revista Comemorativa dos 80
anos da Diocese de Lages – SC. Bispo: Dom Oneres Marchiori. Revisão: Pe.
David Bruno Goedert. Editora: Olivete Salmória. Passo Fundo: Imperial Artes
Gráficas, 2009.
DIRKSEN,
Valberto. Anita Garibaldi: retratos
da memória. Porto Alegre: Pomar Editora, 2011.
FERRI, Gil Karlos. “Verdes matas a te circundar”: aspectos
históricos e socioambientais da indústria madeireira em Anita Garibaldi – SC
(Século XX). Trabalho de Conclusão de Curso. Departamento de História. Centro
de Filosofia e Ciências Humanas. Universidade Federal de Santa Catarina.
Florianópolis, 2014. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/124797>. Acesso em:
02 jan. 2022.
FRANCESCONI,
Mario (org.). Storia della Congregazione Scalabriniana – Vol. VI (1940-1978).
Publicação original: Centro Studi Emigrazione, Roma, 1982; Transcrição digital:
Istituto Storico Scalabriniano, Roma, 2021.
Congregação
das Irmãs da Divina Providência.
Disponível em: <http://divinaprovidencia.com.br/a-congregacao/historia/>. Acesso em: 02 jan. 2022.
MARTELLO,
Graciano. Anita Garibaldi e sua História. Edição Histórica de Anita Garibaldi. Jornal O Guardião. Lages, 1975.
MARTELLO,
Graciano. Paróquia Santa Bárbara:
jubileu de ouro. Gráfica Brindes Lages, 2000.
Missionari
di San Carlo – Scalabriniani. Disponível em:
<https://www.scalabriniani.org/>. Acesso em: 02 jan. 2022.
Fontes
Ata
da reunião para a construção do Hospital Frei Rogério. Anita Garibaldi, 01 nov. 1952. Acervo: Hospital
Frei Rogério. Anita Garibaldi, SC.
CASARIL,
João. Lista dos Padres Carlistas e ano em que começaram a trabalhar nesta
paróquia de Anita Garibaldi como vigários e coadjutores. In: Livro de Tombo II da Paróquia Santa Bárbara.
Anita Garibaldi, 08 set. 1975. p. 33. Acervo: Paróquia Santa Bárbara. Anita
Garibaldi, SC.
Colonia Annita
Garibaldi. Jornal Região Serrana, n. 153.
Lages, 06 maio 1900. Acervo: Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina.
Florianópolis, SC.
Livro do Conselho de Fábrica da
Matriz (1951 - 1974). Acervo: Paróquia
Santa Bárbara. Anita Garibaldi, SC.
MIOTTO, Sextílio. Parrocchia
Santa Barabara di Anita Garibaldi: rapporto storico dall’inizio fino al
1966. Anita Garibaldi,
nov. 1967. Acervo: Paróquia Santa Bárbara. Anita Garibaldi, SC.
Prefeitura
Municipal de Lages. Resolução n. 04. Jornal
A Época, n. 181. Lages, 17 dez. 1930. p. 02. Acervo: Museu Thiago de
Castro. Lages, SC.
[1] Bacharel e licenciado em
História pela Universidade Federal de Santa Catarina (2014), com monografia
sobre o município de Anita Garibaldi (SC), e mestre em História pela
Universidade Federal da Fronteira Sul (2018), com dissertação sobre o município
de Celso Ramos (SC). E-mail: gilferri@hotmail.com
[2] Graduado em Filosofia pela UNIJUÍ (1974) e doutor em Ciências Humanas pela USP (1980).
Possui especializações em estudos latino-americanos em Roma (1983) e Paris
(1984) e pós-doutorado na área de imigração alemã no Brasil na Universidade
Livre de Berlim (1997). Pesquisador em imigrações, religiosidades e
genealogias. Dentre outras obras, autor do livro Anita Garibaldi: retratos da memória (Pomar Editora, 2011). E-mail: dirksenbr@yahoo.com.br
[3] Cf. MARTELLO, 1975, p. 01.
[4] MIOTTO, 1967, p. 01. Tradução
dos autores.
[5] Cf.: QUEIROZ, 1973, p. 72-99.
[6] Três monges foram considerados
profetas e santos que, com o passar do tempo, fundiram-se em apenas uma figura
no imaginário popular. O primeiro, João Maria de Agostinho, tinha origem
italiana e vagou pela região Sul entre 1840 e 1870. O segundo, João Maria de
Jesus, peregrinou pelos sertões da década de 1890 até 1908. E o terceiro, José
Maria de Santo Agostinho, teve forte envolvimento com os caboclos da região na
Guerra do Contestado (1912 – 1916).
[7] Até 1872 Lages pertenceu ao
Bispado de São Paulo, e, a partir deste ano, ao Bispado de Curitiba. Em 19 de
março de 1908 a Paróquia de Lages passou a pertencer à recém-criada Diocese de
Florianópolis. Devido ao tamanho do Estado, em 1927, o Papa Pio XI acatou o
interesse do clero catarinense e elevou a Diocese de Florianópolis a categoria
de Arquidiocese, criando assim as Dioceses de Joinville e Lages (1929). Fonte:
DIOCESE DE LAGES, 2009, p. 06-09.
[8] MIOTTO, 1967, p. 01. Tradução
dos autores.
[9] Cf. CASARIL, 1972, p. 49
[10] Cf. MARTELLO, 2000, p. 05.
[11] JORNAL REGIÃO SERRANA, 06 maio
1900.
[12] MARTELLO, 1975, p. 02.
[13] DIRKSEN, 2011, p. 94.
[14] JORNAL A ÉPOCA, 17 dez. 1930, p. 02.
[15] “Dom Daniel Hostin (* 02 abr. 1890,
Gaspar - SC – † 08 nov. 1973, Lages - SC) foi o primeiro Bispo Diocesano de
Lages. Ordenado presbítero em 30 de novembro de 1917, em Petrópolis (RJ).
Ordenado Bispo, em Blumenau (SC), no dia 29 de setembro de 1929. Durante 44
anos atuou na Diocese de Lages marcando profundamente não só a história
religiosa, como também a trajetória social e política da região.” Fonte:
DIOCESE DE LAGES, 2009, p. 09.
[16] MIOTTO, 1967, p. 02. Tradução
dos autores.
[17] Livro do Conselho de Fábrica da Matriz (1951 - 1974), 31 mar. 1951,
p. 01 e 02.
[18] A Congregação dos Missionários
de São Carlos Borromeu, também conhecida como Carlistas ou Escalabrinianos, foi
fundada por João Batista Scalabrini e aprovada pelo Papa Leão XIII em 28 de
novembro de 1887. Os religiosos desta congregação dedicam-se, especialmente, a
assistência aos migrantes. Fonte: Missionari di San Carlo – Scalabriniani.
Disponível em: <https://www.scalabriniani.org/>. Acesso em: 02 jan. 2022.
[19] Lista de padres
da Paróquia Santa Bárbara de Anita Garibaldi (SC), de 1948 a 1974: 1948 – Padre
Rodolfo de Cândido (coadjutor); 1949 – Padre Remígio Dalla Vecchia (vigário);
1949 – Padre Giuseppe Corradin (coadjutor); 1950 – Padre Antonio Cerato
(vigário); 1950 – Padre Giovanni Simonetto (coadjutor); 1951 – Padre Remígio
Dalla Vecchia (vigário); 1951 – Padre Luígi Conte (coadjutor); 1952 set. –
Padre Elias Bordignon (coadjutor); 1953 jan. – Padre Elias Bordignon (vigário);
1953 jan – Padre Benjamim Basso (coadjutor); 1953 jun. – Padre Giovanni
Lazarotto (coadjutor); 1954 jan. – Padre Avelino Garbin (coadjutor); 1957 jan.
– Padre Giovanni Tranquilo Lorenzin (coadjutor); 1957 jul. – Padre Antonio
Stella (coadjutor); 1957 jul. – Padre Antonio Stella (vigário); 1958 jan –
Padre Euclides Zanatta (coadjutor); 1958 jul. – Padre Elias Bordignon
(vigário); 1959 jan. – Padre Giovanni Tranquilo Lorenzin (vigário); 1959 jan. –
Padre Sextílio Miotto (coadjutor); 1959 jul. – Padre Antonio Stella (vigário);
1960 fev. – Padre Bruno Busatta (coadjutor); 1962 jan. – Padre Ernesto Fanni
(coadjutor); 1962 set. – Padre Achille Zanon (coadjutor); 1963 set. – Padre
Antonio Benetti (coadjutor); 1965 mar. – Padre Giovanni Corso (coadjutor); 1966
fev. – Padre Sextílio Miotto (coadjutor); 1966 – Padre Sextílio Miotto
(vigário); 1967 abr. – Padre Bruno Busatta (coadjutor); 1968 fev. – Padre
Antonio Bortolomai (coadjutor); 1968 mar. – Padre Joaquim Roque Filippin
(coadjutor); 1969 abr. – Padre Angelo Tedesco (coadjutor); 1970 jan. – Padre
Angelo Corso (coadjutor); 1970 mar. – Padre João Granzotto (vigário); 1970 mar.
– Padre Benjamim Rosatto (coadjutor); 1970 out. – Padre Giocondo Giovanni
Casaril (coadjutor); 1974 – Padre Achille Zanon (vigário); 1974 abr. – Padre
Luigi Valtulini (coadjutor). Fonte: CASARIL, 1975, p. 33.
[20] Padre Elias
Bordignon (* 27 jul. 1921, Paraí - RS – † 28 fev. 1996, Nova Bassano - RS), foi
o primeiro sacerdote da Congregação dos Padres Carlistas nascido no Brasil. Foi
ordenado sacerdote no dia 17 de dezembro de 1950. Trabalhou na paróquia Santa
Bárbara de Anita Garibaldi de 1953 a 1959, primeiro como coadjutor e depois
como pároco. Foi ele o principal idealizador e incentivador da construção da igreja
matriz e do Hospital Frei Rogério. Fonte: FRANCESCONI, 2021, p. 253 e 280.
[21] Ata da reunião para a
construção do Hospital Frei Rogério, 01 nov. 1952.
[22] A
Congregação das Irmãs da Divina Providência foi fundada pelo Padre Eduardo
Michelis, na Alemanha, em 03 de novembro de 1842. No Brasil, a congregação está
presente desde 1893 e se difundiu pelas cidades da região Sul onde se dedica
principalmente aos trabalhos educacionais e hospitalares. Fonte: Congregação
das Irmãs da Divina Providência. Disponível em: <http://divinaprovidencia.com.br/a-congregacao/historia/>. Acesso em: 02 jan. 2022.
[23] MIOTTO, 1967, p. 03. Tradução
dos autores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Gostou?Comente aqui e se possível inscreva-se.