Paróquia Santa Bárbara: origens históricas e atuação sociorreligiosa da igreja católica em Anita Garibaldi-SC

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022


Gil Karlos Ferri[1]

Valberto Dirksen[2]

 

Resumo

 

O objetivo deste artigo é apresentar os aspectos históricos da criação da Paróquia Santa Bárbara e a atuação sociorreligiosa da Igreja Católica em Anita Garibaldi (SC). Com base em revisão bibliográfica e fontes documentais e iconográficas do acervo paroquial e diocesano, a presente narrativa visa mostrar o relevante papel dos padres Carlistas/Escalabrinianos e das Irmãs da Divina Providência no desenvolvimento do município mediante sua atuação na Igreja, na escola paroquial e no Hospital Frei Rogério. A criação da paróquia e o trabalho dos religiosos e das religiosas na assistência espiritual e social representam um legado fundamental da Igreja Católica Apostólica Romana para a melhoria da qualidade de vida da sociedade anitense e de toda a região.  

 

Palavras-chave: Religiosidade; Paróquia Santa Bárbara; Anita Garibaldi.

 

Introdução: a gênese caboclo-serrana 

 

Antes da chegada dos colonizadores de origem europeia, grupos indígenas viviam na região onde atualmente está localizado o território do município de Anita Garibaldi, no Planalto catarinense. A partir do século XVIII memorialistas relatam que o território entre os rios Canoas e Pelotas, denominado “Entre Rios”, passou a servir para o descanso de tropeiros e invernada das tropas que passavam pela região serrana. Por volta de 1825 tropeiros do Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo utilizavam o local onde atualmente se encontra a Praça Paulino Granzotto para paradas e sesteadas em suas viagens. Nessas ocasiões, além do comércio de mercadorias, ocorriam trocas e compras de animais com os fazendeiros locais, que detinham criação de equinos. Por esse motivo o local teria ficado conhecido como “Rincão dos Baguais”.[3]

Diversas fontes nos auxiliam na composição de uma narrativa sobre as origens da paróquia. Dentre elas, merece destaque um breve histórico escrito pelo padre carlista Sextilio Miotto, em 1967. Seus registros, em italiano popular, enfatizam as ações da Igreja Católica e fornecem relevantes observações sobre a história local. Acerca da situação de Anita Garibaldi antes do século XX, o religioso registrou que:

 

Dove, c’è l’attuale piazza c’era um grande “banhado” dove si abbeverano i giumente dei “tropeiros” che passavano di qui. Aveva una stradicciola. Il resto era foresta vergine.

 

[Onde existe atualmente a praça, havia um grande banhado onde se dava de beber às mulas dos tropeiros que por aqui passavam. Havia uma estradinha. O resto era floresta virgem].[4]

 

A população local de origem luso-brasileira, também conhecida como cabocla, possuía uma fé peculiar (rústica), distante do catolicismo oficial preconizado pelo clero de Lages. O isolamento em que vivia era um dos motivos para que não frequentasse as poucas e esparsas capelas do território entre os rios Canoas e Pelotas. Deste modo, as pessoas cultivavam sua fé individualmente em casa ou em grupos de vizinhos, através de rezas e cantos populares. Recorria-se rotineiramente aos curandeiros e benzedores para resolver doenças e atender aos apelos religiosos. O distanciamento dos rituais católicos não era um desdém ao clero da época, mas antes um reflexo do superficial conhecimento dos ritos da Igreja somados as limitações materiais e ao isolamento das comunidades de outrora.[5]

Alguns profetas[6] peregrinavam por esse território, curando e pregando sua religiosidade aos habitantes locais. Muitos tinham fé em suas palavras e ações, pois executavam curas e falavam de justiça e esperança a um povo que vivia na miséria e era carente de assistência religiosa. Ainda hoje a devoção popular aos profetas pode ser notada na crença de que alguns locais por onde estes monges teriam passado – como as denominadas “águas santas” – são considerados sagrados.    

Padres Franciscanos: assistência religiosa no sertão

 

A esporádica assistência religiosa católica iniciou-se no final do século XIX, quando os padres franciscanos da Paróquia de Nossa Senhora dos Prazeres de Lages[7]  realizavam viagens de desobriga para atender a população do território onde hoje encontram-se os municípios de Campo Belo do Sul, Cerro Negro, Anita Garibaldi e Celso Ramos. Conforme o histórico produzido pelo padre Sextílio Miotto, no início do século XX “questa località era servita daí Padri di Lajes, che venivano ogni tre o alle volte ogni sei mesi.” [“Esta localidade era atendida pelos padres de Lages, que vinham a cada três ou às vezes a cada seis meses”].[8]

O primeiro oratório do qual se tem registro no território que atualmente compreende a Paróquia Santa Bárbara foi construído na década 1890, na comunidade de Freguesia dos Domingos, e tem como padroeiro São Francisco de Assis. A organização religiosa dessa comunidade se deve possivelmente aos padres franciscanos, da Ordem de São Francisco de Assis, pois foi no ano de 1892 que essa congregação de religiosos se instalou em Lages.[9]

Nas primeiras décadas do século XX os padres franciscanos percorriam a região, a cavalo ou de mula, seguindo uma agenda de celebrações nas capelas e sedes das fazendas onde rezavam missas, batizavam, atendiam confissões, celebravam casamentos e faziam visitas aos doentes. Cada comunidade se organizava para a visita dos religiosos, pois era um momento de oração, união e festividade. Além da comunidade de São Francisco, da Freguesia dos Domingos, existiam, entre outras, as capelas de Santa Bárbara, Santa Ana, Santo Antônio, São João do Entre Rios e Colônia São Paulo. Frei Rogério Neuhaus (*1863 – †1934), cognominado o “Apóstolo do Planalto”, foi um dos missionários deste período, percorrendo a região de 1892 a 1918. Outros franciscanos atendiam também a região desde o final do século XIX até a primeira metade do século XX. Entre eles, citam-se: Frei Lourenço, Frei Fausto, Frei Hipólito, Frei Cristiano, Frei Olímpio, Frei João Damasceno e Frei João Batista.[10]        

 

Migração e colonização ítalo-brasileira: catolicismo romanizado

 

No final do século XIX o fazendeiro lageano José Maria Antunes Ramos decidiu fundar uma colônia em terras de sua propriedade para auferir ganhos com a venda de lotes aos colonos. Ciente da religiosidade dos (i)migrantes ítalos, o fundador da colônia teve a preocupação de construir uma capela na sede da colônia, conforme notícia publicada no periódico Região Serrana em 06 de maio de 1900:

 

Estão construídas na sede da colônia, por enquanto, a casa do diretor e diversas casas provisórias para trabalhadores, e dentro de pouco tempo o diretor dará começo à construção da igreja para cujo fim tem conseguido não pequena quantia por meio de subscrição. [...] É, portanto, um fato consumado, a criação da colônia Anita Garibaldi.[11]

 

Por volta de 1905, algumas famílias descendentes de imigrantes italianos que haviam migrado para a localidade de Santa Ana, na margem do rio Canoas, decidiram estabelecer-se na sede da colônia, no local onde atualmente se encontra a área central da cidade. Mais tarde, a partir da década de 1930, outra leva de migrantes de origem italiana proveniente do Sul de Santa Catarina se estabelece na região, principalmente onde hoje se localiza o município de Celso Ramos. Estas famílias traziam na bagagem de sua cultura a devoção a diversos santos e santas e estavam em sintonia com a doutrina oficial da Igreja Católica Apostólica Romana. Uma dessas devoções era o culto a Santa Bárbara, amplamente difundido na Itália e trazido para o Brasil pelos imigrantes. Os colonos escolheram esta Santa como padroeira do local, pois veneravam-na como protetora contra relâmpagos e tempestades, e uma capela foi construída em sua honra nas proximidades onde hoje se encontra a Praça Paulino Granzotto. A imagem da santa foi entalhada por um escultor de origem italiana, residente na localidade de Lajeado dos Portões. O mesmo escultor também esculpiu a imagem de São Francisco, padroeiro da capela da Freguesia dos Domingos. 

 

Os moradores do pequeno povoado, com espírito de solidariedade, aproveitando a boa vontade do proprietário sr. José Maria Antunes, em oferecer um terreno próprio para a construção de uma capelinha, lançaram mãos à obra e construíram a primeira ermida, de tábua bruta plainada a punho, embora com muito sacrifício, em honra à Padroeira Santa Bárbara. A pequena estátua da santa foi feita em madeira de cedro.[12]

 

As famílias provenientes das colônias italianas do Rio Grande do Sul e do Sul de Santa Catarina eram portadoras das práticas de um catolicismo mais doutrinário e romanizado. Em comparação aos caboclos da região, os ítalo-brasileiros, de formação religiosa tridentina, tinham melhor conhecimento da doutrina oficial da Igreja Católica. Os italianos e seus descendentes davam especial importância a presença de um padre junto à comunidade, fator este que impulsionou e mobilizou as comunidades durante a primeira metade do século XX para que tivessem um atendimento religioso regular. A intensificação deste interesse ensejou a criação da paróquia, pois “para os italianos, a Igreja Católica era a principal normatizadora das condutas morais e o polo aglutinador da sociabilidade comunitária e da vida dos colonos”[13].

O desenvolvimento econômico e as articulações políticas levaram a localidade de Anita Garibaldi à categoria de distrito do município de Lages, através da lei n. 1648 de 03 de outubro de 1929, tendo sua instalação acontecida em 15 de janeiro de 1931, com a nomeação de Paulino Granzotto no cargo de Intendente Distrital e Theodoro Salmória como Vice-Intendente Distrital.[14] Com o crescimento populacional a primitiva capela de Santa Bárbara tornou-se pequena para comportar os fiéis. Por isso, foi planejada uma nova capela, mais espaçosa. Sua construção deu-se por volta de 1932, no lugar onde atualmente se encontra o prédio da prefeitura municipal. Neste período também foi construído um salão nas imediações da capela. Esta construção trouxe grandes benefícios para a população local, pois servia para festividades e outros eventos sociais. Em 1934 o Bispo Diocesano de Lages, Dom Daniel Hostin[15], visitou a capela de Santa Bárbara e foi recebido com grande solenidade. Nessas visitas, de caráter pastoral, compareciam, de longe e de perto, os fiéis em massa, pois além das pregações e celebrações litúrgicas de praxe, era ministrado também o sacramento da crisma.

 

Figura 01 – Igreja Santa Bárbara. Anita Garibaldi, década de 1930.



Acervo: Paróquia Santa Bárbara. Anita Garibaldi, SC.

 

Criação da Paróquia Santa Bárbara

 

Durante a primeira metade do século XX a população de Anita Garibaldi aspirava pela criação de uma paróquia. O bispo Dom Daniel Hostin acompanhou este anseio nas inúmeras visitas que fez à capela da localidade. Também os habitantes da colônia São Paulo, atual município de Celso Ramos, reivindicavam a criação de uma paróquia em seu território. Por questões de afinidade política e centralidade geográfica, foi decidido pela diocese que a nova paróquia teria sua sede em Anita Garibaldi. Sobre a criação da paróquia e a escolha do lugar para sede, o padre Sextílio Miotto registrou em seu histórico:

 

Nel 1947 Anita fu visitata dai Padri Carlisti che per invito del Vescovo accettarono di fondarvi una parrocchia. [...] Nel 1947 vennero a studiare la possibilità della parrocchia e scegliere la sede. Vi rimane p. Remigio Dalla Vecchia. [...] P. Remigio scelse Anita come sede della parrocchia perchè era più centrale. [...] Il giorno 4 dicembre 1948 è creata la Parrocchia di Anita Garibaldi avendo per Patrona Santa Barbara.

 

[No ano de 1947 Anita foi visitada pelos Padres Carlistas que, a convite do Bispo, aceitaram a incumbência de fundar uma paróquia. [...] Em 1947 vieram estudar a possibilidade da paróquia e escolher a sua sede. Aqui ficou o padre Remígio Dalla Vecchia. [...] Pe. Remígio escolheu Anita como sede da paróquia porque era mais central. [...] No dia 04 de dezembro de 1948 foi criada a Paróquia de Anita Garibaldi, tendo por padroeira Santa Bárbara].[16]

 

No final da década de 1940, reforçando o interesse pela criação de uma paróquia na localidade, alguns habitantes dedicados às causas políticas e religiosas do distrito, enviaram ao bispo diocesano um documento com significativo número de assinaturas com promessa de doações para a criação da paróquia. Por certo este documento pesou na decisão do Bispo e fortaleceu a escolha do distrito como sede paroquial.

Por decreto do Bispo de Lages de 08 de setembro de 1950 (transcrito abaixo) foi oficialmente criada a Paróquia Santa Bárbara de Anita Garibaldi. A solenidade de instalação foi no dia 31 de março de 1951, e a posse do primeiro vigário, padre Remígio Dalla Vecchia, foi no dia 01 de abril de 1951.

 

 

DOM DANIEL HOSTIN

DA ORDEM FRANCISCANA

POR MERCÊ DE DEUS E DA SANTA SÉ APOSTÒLICA

BISPO DE LAJES

 

Aos que este Nosso Decreto virem, saudação, paz e benção

em Nosso Senhor Jesus Cristo.

 

Fazemos saber que, atendendo às necessidades espirituais dos nossos amados Diocesanos dos distritos de Anita Garibaldi e Cerro Negro, no município de Lajes, depois de ouvido o nosso venerável Conselho Diocesano e mais partes interessadas, em virtude de nossa Jurisdição ordinária, de acordo com o Canon 1427, combinado ao Canon 454, § 3, do Direito Canônico: havemos por bem criar, como de fato pelo presente nosso Decreto,  criamos a paróquia de Santa Bárbara de Anita Garibaldi, desmembrando, para sua formação, parte do território da paróquia de Nossa Senhora dos Prazeres de Lajes.

A nova paróquia de Santa Bárbara de Anita Garibaldi, terá as seguintes divisas: Confina, ao norte, com a paróquia de São João Batista de Campos Novos pelo rio Canoas, do seguinte modo: partindo da sua foz no rio Pelotas, sobe pelo Canoas até o limite da paróquia de Nossa Senhora da Saúde de Abdon Batista, daí, sempre pelo rio Canoas até à barra do rio Caveiras; daí, em divisa com a paróquia de Lajes, sobe pelo Caveiras até a confluência do lajeado do Alexandre; ao leste, ainda com a paróquia de Lajes, sobe pelo lajeado do Alexandre até a sua nascente; daí por uma linha seca até a nascente do lajeado dos Tijolos e desce por este até a sua foz no rio Pelotas; ao sul, desce pelo Pelotas até a barra do rio Canoas, onde teve começo a presente descrição.

Acervo: Paróquia Santa Bárbara. Anita Garibaldi, SC.

 

Na ocasião da Santa Missa na igreja de Santa Bárbara, em 31 de março de 1951, o Bispo Dom Daniel Hostin deu posse aos membros do primeiro Conselho da nova Paróquia – que naquele tempo eram chamados de fabriqueiros –, os quais assinaram a ata da reunião extraordinária do Conselho da Fábrica da Paróquia Santa Bárbara de Anita Garibaldi: Pe. Remígio Dalla Vecchia (presidente), Augusto Langer (vice-presidente), Miguel Baby Sobrinho (tesoureiro), Francisco Rodrigues Varela (1º secretário), Euclides Granzotto (2º secretário), Oswaldino José Baby, João Ambrósio, Luiz João Antoniazzi, Maurílio Salmória, Cantalício Ceregatti de Godoy, João Maria Fernandes, Silvério Pucci Ceregatti, Florêncio Salmória, Aquiles Marin, Ivo Schenchet, Eurides Wolff, Vitório Menegazzo, Tolentino José Pinheiro, João Batista José de Souza,  Severino Cavalli e Idalino Pacheco de Andrade.[17]

A pedido do Bispo, o superior provincial da Pia Sociedade dos Padres Carlistas[18] concordou em assumir a Paróquia Santa Bárbara que, naquela época, também abrangia as comunidades do Distrito de Cerro Negro, perfazendo, ao todo, mais de 50 capelas. Os Padres Carlistas, também conhecidos como Escalabrinianos, de origem italiana, tinham afinidade e experiência na prestação de assistência religiosa a localidades formadas por migrantes.[19]

Havendo tomado posse, os padres logo perceberam as enormes carências da população em todos os aspectos, sobretudo na área da saúde e da educação, além do estritamente religioso. Graças ao seu preparo e experiência, puseram imediatamente mãos à obra com coragem e decisão.

Hospital Frei Rogério

 

A fundação do Hospital Frei Rogério foi uma das obras de maior relevância social que a Igreja Católica legou aos cidadãos de Anita Garibaldi e região. A decisão de construir a casa de saúde partiu do padre Elias Bordignon[20] e foi oficializada em reunião no dia 1º de novembro de 1952.[21]

Após dois anos de trabalhos a primeira parte do prédio, em madeira, estava pronta. No dia 14 de agosto de 1954, chegaram as Irmãs da Divina Providência[22] para assumir a direção do hospital. As quatro primeiras religiosas foram: Egbertina, como Co­ordenadora e Diretora Executiva; Joanilde e Meandra, para a enfermagem; e Crisófora, para a cozinha, lavanderia, horta e demais serviços. A inauguração oficial do Hospital Frei Rogério ocorreu no dia 15 de agosto de 1954. No decorrer dos anos, o hospital passou por inúmeras ampliações e melhorias no atendimento e nas acomodações.

A partir do início do ano de 2012 o hospital passou a ser administrado por uma associação beneficente. Apesar das dificuldades para a sua manutenção, o hospital responde às primeiras necessidades da população, contando com atendimento emergencial, partos, pequenas cirurgias e outros tratamentos.

Irmãs da Divina Providência e Escola Paroquial

 

Concluídas as obras de construção do Hospital Frei Rogério, o Padre Elias Bordignon providenciou a construção de uma casa de madeira, que serviria de convento para as Irmãs da Divina Providência. Notando a necessidade de uma formação educacional cristã para a juventude do local, a Congregação enviou, em 1955, a Irmã Veralba para coordenar a catequese, o canto e o ensino básico. Em 1956 a Congregação abriu um Juvenato onde mo­ças recebiam formação religiosa e intelectual. Com o passar dos anos este estabelecimento de ensino foi nomeado sucessivamente com as seguintes nomenclaturas: Colégio Santa Maria Goretti, Escola Padre Antônio Vieira, Colégio Padre Antônio Vieira, Escola Básica de Ensino Fundamental Padre Antônio Vieira e, atualmente, Escola de Educação Básica Padre Antônio Vieira.

Atualmente algumas Irmãs ainda continuam atuando no âmbito do município, exercendo sua missão através das visitas às famílias, na organização da liturgia e como presença orante e testemunho de fé.

 

Nova Igreja Matriz

 

Desde a criação da Paróquia, o primeiro padre, Remígio Dalla Vecchia, desejava a construção de uma nova Igreja Matriz para a padroeira. A Igreja de madeira, em uso desde a década de 1930, tornara-se pequena para a crescente população na década de 1950. O Padre Elias Bordignon sensibilizou-se com a demanda paroquial por um novo templo. Empenhou-se na elaboração do projeto e iniciou uma campanha para arrecadar fundos em prol da obra.

O novo templo não seria construído no mesmo local da igreja antiga, pois o espaço era insuficiente para o edifício e as demais dependências. Para esta finalidade a paróquia conseguiu reaver parte do terreno que o fundador de Anita Garibaldi, o fazendeiro capitão José Maria Antunes Ramos teria doado à Igreja como patrimônio da padroeira Santa Bárbara. Segundo a tradição oral, o terreno era aquele onde atualmente se encontram a igreja matriz, o colégio e o hospital. A benção da pedra fundamental ocorreu em solenidade realizada no dia 03 de março de 1957.

 

Figura 02 - Construção da Igreja Matriz Santa Bárbara. Anita Garibaldi, 1959.



Acervo: Paróquia Santa Bárbara. Anita Garibaldi, SC.

 

Comerciantes, madeireiros, fazendeiros, colonos e demais paroquianos somaram seus esforços na construção da nova igreja. Junto com pedreiros e carpinteiros, Efísio Fanni colaborou como mestre de obras. Para a conclusão da obra, destacou-se o empreendedorismo do padre Antonio Stella, que animava a todos com sua força física, moral e religiosa. Após três anos de ingentes esforços, a monumental igreja foi inaugurada em março de 1960. Porém, devido a sua grandiosidade, as obras prosseguiram: “nel 1960 la chiesa però era, si può dire, appena coperta: negli anni successivi si continuarono i  lavori.” [“Em 1960 pode-se dizer que a igreja estava apenas coberta: nos anos sucessivos as obras continuaram”].[23] Concluída a igreja, foram construídos os atuais espaços da casa canônica e do salão paroquial, ambos recentemente reformados.

A imponente igreja, com uma torre que figura entre as mais altas dentre todas as igrejas do Estado de Santa Catarina, é um verdadeiro símbolo para a cidade.

 

Figura 03 – Vista frontal da Igreja Matriz Santa Bárbara e parcial da E.E.B. Padre Antônio Vieira e Hospital Frei Rogério. Anita Garibaldi, 04 jun. 2019.



Fotografia: Gil Karlos Ferri.

 

Considerações finais

 

A composição de uma narrativa histórica acerca da criação da Paróquia Santa Bárbara permite compreender, em perspectiva, o contexto sociorreligioso e articulação do clero em uma significativa parte do Planalto Serrano de Santa Catarina. A criação da paróquia possibilitou ao bispado de Lages uma melhor presença na assistência religiosa no sertão entre os rios Canoas e Pelotas. Os esforços e articulações dos padres Carlistas e das irmãs da Divina Providência foram fundamentais para a criação e desenvolvimento do município de Anita Garibaldi, envolvendo-se em obras na saúde, educação e assistência social.  

Em 12 de fevereiro de 1992, depois de quase meio século de atividades, os padres Carlistas deixaram a paróquia e foram substituídos pelos padres Diocesanos, que atendem a paróquia até hoje. A Paróquia de São Paulo Apóstolo, no município de Celso Ramos, foi criada em 1998 mediante o desmembramento de algumas capelas da Paróquia Santa Bárbara.

Ao longo do tempo, desdobramentos sócio-políticos tornaram a escola e o hospital instituições laicas. Entretanto, a perspectiva histórica favorece o reconhecimento do ânimo e do legado dos religiosos e religiosas da Igreja Católica Apostólica Romana para a estruturação do município e uma melhor qualidade de vida para a sociedade anitense e de toda a região.

 

Referências

 

DIOCESE DE LAGES. Revista Comemorativa dos 80 anos da Diocese de Lages – SC. Bispo: Dom Oneres Marchiori. Revisão: Pe. David Bruno Goedert. Editora: Olivete Salmória. Passo Fundo: Imperial Artes Gráficas, 2009.

 

DIRKSEN, Valberto. Anita Garibaldi: retratos da memória. Porto Alegre: Pomar Editora, 2011.

 

FERRI, Gil Karlos. Verdes matas a te circundar”: aspectos históricos e socioambientais da indústria madeireira em Anita Garibaldi – SC (Século XX). Trabalho de Conclusão de Curso. Departamento de História. Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2014. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/124797>. Acesso em: 02 jan. 2022.

 

FRANCESCONI, Mario (org.). Storia della Congregazione Scalabriniana – Vol. VI (1940-1978). Publicação original: Centro Studi Emigrazione, Roma, 1982; Transcrição digital: Istituto Storico Scalabriniano, Roma, 2021.

 

Congregação das Irmãs da Divina Providência. Disponível em: <http://divinaprovidencia.com.br/a-congregacao/historia/>. Acesso em: 02 jan. 2022.

  

MARTELLO, Graciano. Anita Garibaldi e sua História. Edição Histórica de Anita Garibaldi. Jornal O Guardião. Lages, 1975.

 

MARTELLO, Graciano. Paróquia Santa Bárbara: jubileu de ouro. Gráfica Brindes Lages, 2000.

 

Missionari di San Carlo – Scalabriniani. Disponível em: <https://www.scalabriniani.org/>. Acesso em: 02 jan. 2022.

 

Fontes

 

Ata da reunião para a construção do Hospital Frei Rogério. Anita Garibaldi, 01 nov. 1952. Acervo: Hospital Frei Rogério. Anita Garibaldi, SC.

 

CASARIL, João. Lista dos Padres Carlistas e ano em que começaram a trabalhar nesta paróquia de Anita Garibaldi como vigários e coadjutores. In: Livro de Tombo II da Paróquia Santa Bárbara. Anita Garibaldi, 08 set. 1975. p. 33. Acervo: Paróquia Santa Bárbara. Anita Garibaldi, SC.

 

Colonia Annita Garibaldi. Jornal Região Serrana, n. 153. Lages, 06 maio 1900. Acervo: Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina. Florianópolis, SC.

 

Livro do Conselho de Fábrica da Matriz (1951 - 1974). Acervo: Paróquia Santa Bárbara. Anita Garibaldi, SC.

 

MIOTTO, Sextílio. Parrocchia Santa Barabara di Anita Garibaldi: rapporto storico dall’inizio fino al 1966. Anita Garibaldi, nov. 1967. Acervo: Paróquia Santa Bárbara. Anita Garibaldi, SC.

 

Prefeitura Municipal de Lages. Resolução n. 04. Jornal A Época, n. 181. Lages, 17 dez. 1930. p. 02. Acervo: Museu Thiago de Castro. Lages, SC.

 



[1] Bacharel e licenciado em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (2014), com monografia sobre o município de Anita Garibaldi (SC), e mestre em História pela Universidade Federal da Fronteira Sul (2018), com dissertação sobre o município de Celso Ramos (SC). E-mail: gilferri@hotmail.com  

[2] Graduado em Filosofia pela UNIJUÍ (1974) e doutor em Ciências Humanas pela USP (1980). Possui especializações em estudos latino-americanos em Roma (1983) e Paris (1984) e pós-doutorado na área de imigração alemã no Brasil na Universidade Livre de Berlim (1997). Pesquisador em imigrações, religiosidades e genealogias. Dentre outras obras, autor do livro Anita Garibaldi: retratos da memória (Pomar Editora, 2011). E-mail: dirksenbr@yahoo.com.br

[3] Cf. MARTELLO, 1975, p. 01.

[4] MIOTTO, 1967, p. 01. Tradução dos autores.

[5] Cf.: QUEIROZ, 1973, p. 72-99.

[6] Três monges foram considerados profetas e santos que, com o passar do tempo, fundiram-se em apenas uma figura no imaginário popular. O primeiro, João Maria de Agostinho, tinha origem italiana e vagou pela região Sul entre 1840 e 1870. O segundo, João Maria de Jesus, peregrinou pelos sertões da década de 1890 até 1908. E o terceiro, José Maria de Santo Agostinho, teve forte envolvimento com os caboclos da região na Guerra do Contestado (1912 – 1916). 

[7] Até 1872 Lages pertenceu ao Bispado de São Paulo, e, a partir deste ano, ao Bispado de Curitiba. Em 19 de março de 1908 a Paróquia de Lages passou a pertencer à recém-criada Diocese de Florianópolis. Devido ao tamanho do Estado, em 1927, o Papa Pio XI acatou o interesse do clero catarinense e elevou a Diocese de Florianópolis a categoria de Arquidiocese, criando assim as Dioceses de Joinville e Lages (1929). Fonte: DIOCESE DE LAGES, 2009, p. 06-09.  

[8] MIOTTO, 1967, p. 01. Tradução dos autores.

[9] Cf. CASARIL, 1972, p. 49

[10] Cf. MARTELLO, 2000, p. 05.

[11] JORNAL REGIÃO SERRANA, 06 maio 1900.

[12] MARTELLO, 1975, p. 02.

[13] DIRKSEN, 2011, p. 94.

[14] JORNAL A ÉPOCA, 17 dez. 1930, p. 02.

[15] “Dom Daniel Hostin (* 02 abr. 1890, Gaspar - SC – † 08 nov. 1973, Lages - SC) foi o primeiro Bispo Diocesano de Lages. Ordenado presbítero em 30 de novembro de 1917, em Petrópolis (RJ). Ordenado Bispo, em Blumenau (SC), no dia 29 de setembro de 1929. Durante 44 anos atuou na Diocese de Lages marcando profundamente não só a história religiosa, como também a trajetória social e política da região.” Fonte: DIOCESE DE LAGES, 2009, p. 09.

[16] MIOTTO, 1967, p. 02. Tradução dos autores.

[17] Livro do Conselho de Fábrica da Matriz (1951 - 1974), 31 mar. 1951, p. 01 e 02.

[18] A Congregação dos Missionários de São Carlos Borromeu, também conhecida como Carlistas ou Escalabrinianos, foi fundada por João Batista Scalabrini e aprovada pelo Papa Leão XIII em 28 de novembro de 1887. Os religiosos desta congregação dedicam-se, especialmente, a assistência aos migrantes. Fonte: Missionari di San Carlo – Scalabriniani. Disponível em: <https://www.scalabriniani.org/>. Acesso em: 02 jan. 2022.

[19] Lista de padres da Paróquia Santa Bárbara de Anita Garibaldi (SC), de 1948 a 1974: 1948 – Padre Rodolfo de Cândido (coadjutor); 1949 – Padre Remígio Dalla Vecchia (vigário); 1949 – Padre Giuseppe Corradin (coadjutor); 1950 – Padre Antonio Cerato (vigário); 1950 – Padre Giovanni Simonetto (coadjutor); 1951 – Padre Remígio Dalla Vecchia (vigário); 1951 – Padre Luígi Conte (coadjutor); 1952 set. – Padre Elias Bordignon (coadjutor); 1953 jan. – Padre Elias Bordignon (vigário); 1953 jan – Padre Benjamim Basso (coadjutor); 1953 jun. – Padre Giovanni Lazarotto (coadjutor); 1954 jan. – Padre Avelino Garbin (coadjutor); 1957 jan. – Padre Giovanni Tranquilo Lorenzin (coadjutor); 1957 jul. – Padre Antonio Stella (coadjutor); 1957 jul. – Padre Antonio Stella (vigário); 1958 jan – Padre Euclides Zanatta (coadjutor); 1958 jul. – Padre Elias Bordignon (vigário); 1959 jan. – Padre Giovanni Tranquilo Lorenzin (vigário); 1959 jan. – Padre Sextílio Miotto (coadjutor); 1959 jul. – Padre Antonio Stella (vigário); 1960 fev. – Padre Bruno Busatta (coadjutor); 1962 jan. – Padre Ernesto Fanni (coadjutor); 1962 set. – Padre Achille Zanon (coadjutor); 1963 set. – Padre Antonio Benetti (coadjutor); 1965 mar. – Padre Giovanni Corso (coadjutor); 1966 fev. – Padre Sextílio Miotto (coadjutor); 1966 – Padre Sextílio Miotto (vigário); 1967 abr. – Padre Bruno Busatta (coadjutor); 1968 fev. – Padre Antonio Bortolomai (coadjutor); 1968 mar. – Padre Joaquim Roque Filippin (coadjutor); 1969 abr. – Padre Angelo Tedesco (coadjutor); 1970 jan. – Padre Angelo Corso (coadjutor); 1970 mar. – Padre João Granzotto (vigário); 1970 mar. – Padre Benjamim Rosatto (coadjutor); 1970 out. – Padre Giocondo Giovanni Casaril (coadjutor); 1974 – Padre Achille Zanon (vigário); 1974 abr. – Padre Luigi Valtulini (coadjutor). Fonte: CASARIL, 1975, p. 33.

[20] Padre Elias Bordignon (* 27 jul. 1921, Paraí - RS – † 28 fev. 1996, Nova Bassano - RS), foi o primeiro sacerdote da Congregação dos Padres Carlistas nascido no Brasil. Foi ordenado sacerdote no dia 17 de dezembro de 1950. Trabalhou na paróquia Santa Bárbara de Anita Garibaldi de 1953 a 1959, primeiro como coadjutor e depois como páro­co. Foi ele o principal idealizador e incentivador da construção da igreja matriz e do Hospital Frei Rogério. Fonte: FRANCESCONI, 2021, p. 253 e 280.

[21] Ata da reunião para a construção do Hospital Frei Rogério, 01 nov. 1952.

[22] A Congregação das Irmãs da Divina Providência foi fundada pelo Padre Eduardo Michelis, na Alemanha, em 03 de novembro de 1842. No Brasil, a congregação está presente desde 1893 e se difundiu pelas cidades da região Sul onde se dedica principalmente aos trabalhos educacionais e hospitalares. Fonte: Congregação das Irmãs da Divina Providência. Disponível em: <http://divinaprovidencia.com.br/a-congregacao/historia/>. Acesso em: 02 jan. 2022.

[23] MIOTTO, 1967, p. 03. Tradução dos autores.

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