Uma reflexão ambiental na história da imigração italiana

sexta-feira, 27 de outubro de 2017


Gil Karlos Ferri
Bacharel e licenciado em História - UFSC
Mestrando em História Ambiental - UFFS

A atual paisagem do Sul do Estado de Santa Catarina é resultado, sobretudo, da grande imigração italiana ocorrida no final do século XIX e início do século XX. Uma das maneiras de compreender os fatores do desmatamento na região é através da História Ambiental, uma metodologia que pos-sibilita compreender as ações humanas e seus impactos na natureza através dos tempos.

Até o século XIX, a Itália era dividida em diversos reinos com diferentes leis e senhores. Os privilegiados proprietários arrendavam as terras e exploravam os camponeses. As condições de vida dos agricultores italianos eram difíceis, marcadas pela miséria e a insalubridade. As dificuldades político-econômicas causaram desestruturação na sociedade do período, forçando os camponeses a emigrar.
Milhares de italianos se aventuraram em uma viagem até a América para realizar o sonho de ser proprietários de terras, fazer fortuna e garantir uma vida com mais conforto para a família. É fato que o governo brasileiro e as empresas de colonização não cumpriram totalmente com as promessas feitas aos colonos, porém, a determinação e a falta de opção dos imigrantes os forçaram a trabalhar e tentar progredir em condições adversas.

No final do século XIX, por meio de iniciativas governamentais e privadas, foram criadas diversas colônias para imigrantes italianos na região Sul de Santa Catarina. Este período também representa uma extrema e infeliz guinada para a história da natureza local. A introdução de colonos europeus provocou um acelerado desmatamento das florestas, ocasionando desequilíbrio e conflitos socioambientais. De acordo com o padre italiano Luigi Marzano, que esteve como missionário na região, a coivara - queima da vegetação para adubagem da terra com as cinzas - era um sistema utilizado para o plantio nas colônias. No século XX, o ambiente foi ainda mais exaurido em seus recursos com a extração do carvão mineral. Em resumo, a história da colonização italiana no Sul Catarinense é também uma história de devastação ambiental.

Atualmente, precisamos reconsiderar a colonização sob uma perspectiva que extrapole o discurso oficial e memorialístico. A vegetação nativa da região Sul de Santa Catarina sofreu notáveis alterações ao longo do tempo, onde cedeu lugar às lavouras e habitações - observadas como símbolos do progresso e do triunfo humano sobre a natureza. Os imigrantes não avaliaram os ganhos futuros proporcionados pela preservação, porém, seus descendentes podem entender a história e projetar um futuro mais sustentável. Atualmente, os movimentos migratórios, a agricultura e a criação de animais precisam ser repensados sob a crítica da história, pois os recursos são finitos e a sustentabilidade na nossa relação com a natureza se faz urgente. Afinal, o equilíbrio no uso dos recursos naturais é fundamental para a continuidade da trajetória humana no planeta Terra.

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